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quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Rose Martins - Protagonista de "Mau presságio"


Ilustração de Anderson Furtado



A nossa jovem se chama Rosângela Martins. Ela tem 23 anos. Possui o Ensino Médio completo e cursos básicos de Informática e Atendente comercial. Ela teve que começar a trabalhar cedo para ajudar em casa, que por sinal é alugada, onde sempre morou no bairro da Pratinha. 

Atualmente é caixa em um supermercado que fica no Centro comercial de Belém. Trabalha mais de oito horas por dia, de segunda aos sábados. Quando é escalada, tem que ir trabalhar nos feriados e domingos também.

Não têm filhos. Apenas sonha em ter o seu lugar pra morar e sair da casa dos pais. Ela quer ter o seu próprio espaço. Todos os dias ela acorda cedo. A mãe, uma mulher de meia idade, é empregada doméstica e tem que estar às 5 da manhã na casa da patroa, uma velha viúva que não teve filhos e vive sozinha em um apartamento de luxo no bairro de Nazaré. As irmãs caçulas vão para a escola. O pai é pedreiro. Trabalha numa construção que fica em Marituba, cidade próxima de Belém. 

O irmão mais velho é usuário de drogas. Quase nunca dorme em casa e quando está presente no seio familiar, brigas acontecem o tempo todo. Principalmente com Rosângela. Eles não têm um bom relacionamento. 

A irmã não aceita os erros do irmão que teve as mesmas oportunidades que ela, mas sempre foi mimado pela mãe e defendido pelo pai por ser o único filho homem que ele teve. O pai, arcaico, ainda preza alguns valores que foram deixados para trás. 

Rose não é muito supersticiosa. Vai uma vez ou outra na igreja católica. Mas é devota de Nossa Senhora de Nazaré. Participa todos os anos do Círio – a maior procissão religiosa do mundo. Não tem um Círio que ela não tenha participado com a sua casa de cera na cabeça no mês de outubro.

Rosângela, chamada pelas amigas e familiares de Rose, é uma mulher que chama atenção. Tem altura média, longos cabelos pretos, lisos como os de uma índia. Aliás, sua avó materna era de uma etnia indígena. 

Mas também possui traços negros no sangue, herança genética do pai. Ela tem pernas e coxas grossas. Os seus lábios carnudos chamam atenção. Seios fartos e cintura fina. Quadris largos, traços comuns do fenótipo da mulher paraense. As mãos dela estão gastas pela jornada dupla de trabalho.

Ela levanta junto com a mãe e a ajuda a preparar o almoço e arrumar as irmãs para ir até à escola. Rosângela tem que andar uns 15 minutos para chegar à parada de ônibus. Se perder o das sete horas, tem que pegar duas conduções, o que pode comprometer mais ainda os gastos no final do mês. Mesmo chegando cedo, enfrenta todos os dias ônibus lotado.

 Ela vai exprimida entre os outros passageiros. Nenhum homem cede o seu lugar no transporte para mulheres, sejam senhoras ou mães com crianças de colo. São quase uma hora num percurso que poderia ser feito em 30 minutos. O trânsito já é intenso na capital paraense, mesmo de manhã cedo.  

Apesar do rosto cansado, porém sempre maquiado, Rosângela chama atenção dos homens pela sua beleza sútil. Olhar distante e expressão serena ela passa a imagem de uma mulher séria. Mesmo assim, sempre recebe cantadas onde quer passa. Seja no trabalho, dos colegas ou clientes, nas ruas, enfim.

Ela nunca namorou muito. O pai sempre foi rígido neste aspecto, um outro fator que a deixava aborrecida. O irmão podia tudo. “Era homem”, gostava de lembrar o pai. “Mulher engravida. É fraca, é besta e fácil de ser enganada”, justificava o pai de Rosângela quando era contra algum namoro da moça. Aliás, ele sempre foi contra todos os namoros dela. Por isso, Rosângela passou a namorar escondido. Apenas a mãe sabia quando ela estava envolvida com algum rapaz.


Um comentário:

  1. Oi. Gostei do blog e do conto. fico feliz por ter usado um desenho meu para ilustrar a sua história. Estou seguindo o seu blog. Siga o meu também se quiser. Estou sempre postando desenhos novos e em breve estarei postando contos e mais poesias que também escrevo.

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