Páginas

domingo, 7 de setembro de 2014

“Roda do Sincopado” é o novo projeto de Reginaldo Viana

Cantor e compositor Reginaldo Viana está com novo projeto - Foto: Valério Silveira


“Eu sempre soube que algo de artístico tinha na minha vida”. Essa era a sensação que o cantor e compositor paraense Reginaldo Viana possuía ao despertar para a vida artística, quando ainda era muito jovem. Hoje, já se passaram vinte anos de envolvimento com a música dentro das escolas e em cima dos palcos, seja na carreira solo ou na regência. Após o lançamento do seu primeiro projeto musical, o CD “Azul”, Reginaldo Viana está produzindo o seu mais novo trabalho: o CD “Roda do Sincopado”. 

Neste novo projeto, Reginaldo Viana destaca as parcerias dos renomados percussionistas paraenses Márcio Jardim e Eraldo Santos, e o seu diferencial com a direção artística de ambos: “a raiz do processo desse trabalho está sendo a partir da percussão, as guias de gravações do novo CD já iniciam com a percussão, ao invés de começar com instrumentos harmônicos, primeiro estamos preparando voz e percussão pra depois surgir os instrumentos harmônicos. Em geral, os arranjos de harmonia iniciam os trabalhos musicais para depois entrar a percussão, mas estamos fazendo o contrário. Queremos algo novo”, ressalta.

O cantor teve a ajuda dos percussionistas nas pesquisas sobre as rodas musicais, que são muitas - rodas de samba, rodas de capoeira, rodas de carimbó, cirandas de roda, entre outras - além dos gêneros que elas possuem dentro de si como o choro, o chorinho, o merengue, o marabaixo, etc. “Para mim foi muito gratificante e enriquecedor abstrair toda a percussão desses gêneros musicais com o apoio do Márcio Jardim e do Eraldo Santos. Queremos fazer uma leitura contemporânea, pop e viva, resultando num trabalho moderno, ligado aos instrumentos eletrônicos, mas que enalteça tudo o que parte do natural, tudo o que vem da nossa cultura”.

Outro músico que também entrou de cabeça e está contribuindo bastante para o projeto “Roda do Sincopado” é o paraense Renato Rosas (banda Farofa Black). A produção está por conta da publicitária e especialista em marketing artístico, Adriana Camarão que avisa: até o final deste mês, Reginaldo Viana terá uma agenda definida para outubro, além da elaboração do primeiro clipe musical, que está sendo concebido justamente em cima da ideia desse novo projeto.

Apesar de já ter patrocínio e apoiadores como o Shopping Pátio Belém, a empresa Rei do Mate e a Fundação Tancredo Neves, “Roda do Sincopado” ainda precisa de apoio e mais recursos para se concretizar. “Estamos nas fases de gravações. Há partes do projeto que já estão em execução, mas ainda temos muito trabalho pela frente. Precisamos de mais patrocinadores, temos que captar mais recursos”, lembra o músico que também pretende usar a internet para divulgar uma mostra do trabalho, como sites que disponibilizam downloads gratuitos. 

A ideia do CD é fazer o público extravasar, sacudir, vibrar. “Eu quero com o ‘Roda do Sincopado’, trabalhar coisas que são populares. Quando eu penso em algo sincopado, que na leitura técnica musical significa tudo àquilo que é ritmado, o que é quebrado, tudo aquilo que nos faz balançar, que movimenta o nosso corpo”, explica o músico, remetendo de onde vem o nome do novo projeto.

Trajetória - Desde a adolescência, Reginaldo Viana começou a estudar e trabalhar com a sua voz. Ele foi aluno da Academia de Canto da Amazônia, que tinha um único professor, uma figura historicamente importante para o Pará, o músico e pesquisador Adelermo Matos - responsável por coletar as músicas folclóricas conhecidas atualmente no Pará. A partir daí Reginaldo se aproximou do canto lírico. 

Além de ser licenciado em Música, pela Universidade Federal do Pará (UFPA), o cantor também possui o nível técnico em canto lírico pela Escola de Música da UFPA, um período apaixonante na vida do artista. “Antes de cantar músicas populares eu passei pela experiência de cantar em corais. Cheguei a participar da Associação Lírica do Pará, foi uma experiência riquíssima pra mim”.

Reginaldo foi auxiliar de regente e regente de pequenos corais, com destaque para o Madrigal de Belém e para o coral da Fundação Hemopa. “Sou apaixonado por ouvir vozes, cantar junto, ver as pessoas cantarem bem, isso também é fazer e produzir música”. E foi por essa paixão que o músico criou o coral Canto e Vida. “Cheguei a produzir dois festivais que unia vários corais de Belém nos anos de 2000 e 2001, no teatro do CCBEU, e foi uma experiência muito rica”.

“Em 2002, eu quis investir na minha carreira fora da regência. Neste ano eu fiz o meu primeiro show, de carreira solo, num teatro com um projeto aprovado com a Lei Tó Teixeira. O show era intitulado ‘Íntimo’ e tinha justamente a ideia de mostrar o meu íntimo. Confesso que nessa época eu ainda não tinha tanta maturidade. O íntimo era no sentido de mostrar para o público o que eu gostava de cantar. E nesse show eu acabei fazendo uma miscelânea de coisas, misturando Zélia Duncan com Nilson Chaves... hoje eu até faria essa mistura, mas com uma outra releitura, com outros tipos de arranjos”.

A música nas escolas - Paralelo aos estudos da música popular e lírica, Reginaldo Viana percebeu que precisa atuar também fora dos palcos, mas trabalhando nas escolas com a música. “Na época, era muito novo trabalhar nas escolas com educação musical, embora tivesse o curso de educação artística com habilitação em música, toda a educação artística ou ensino das artes que se trabalhava em Belém era voltado pras artes plásticas. E me entristecia quando eu via os meus colegas, com formação em música, trabalhando artes plásticas nas escolas. Esse fato se contradiz, pois você tem uma formação e vai pra outra só porque o comum das escolas é aquele?”.

Ele começou a trabalhar com música nas escolas ensinando flauta doce, musicalização de crianças, formou corais em escolas, etc. “Quando a gente tenta trabalhar com uma disciplina que não reprova, que chega a ser quase como optativa, no caso da música, você tem uma desvalorização muito grande por parte da família, dos alunos e muitas vezes dos próprios colegas educadores que ministram outras disciplinas, pois quando eles veem que você, através da música, consegue criar um caminho de sedução e empatia com os alunos, parece que gera isso um certo ciúme. Os professores questionam aos alunos o porquê deles estudarem música se o importante é física, matemática, química...”.

Para Reginaldo Viana ainda existem muitas barreiras para a compreensão do que é cultura, da importância do que é cultura. “Isso perdura até hoje, mas acredito que no passado já foi mais forte. Mas essa minha experiência na educação musical foi um período grandioso, pois eu sinto que consegui mostrar para aquelas pessoas que a música é importante. Até hoje eu tenho conhecimento de inúmeros alunos meus que já são formados em Música, alunos que não seguiram pelo lado da música, mas se aproximaram da arte. Houve uma sensibilização artística. E muitos até já são meus colegas”. O músico também já ministrou aulas na Fundação Curro Velho e na Casa da Linguagem.

As composições – As canções de Reginaldo Viana são existencialistas, reflexivas e questionadoras. As músicas dele falam sobre romantismo, mas também sobre o existir, sobre a brevidade da vida, sobre o motivo da existência do ser humano. Isso é muito forte no primeiro trabalho do artista, o CD “Azul”, que é muito abstrato. 

“Nas minhas canções eu tento falar de sentimentos de forma simples, mas sem ser comum, sem ser medíocre, sem aquela coisa da rima fácil, eu não valorizo tanto a rima. Eu acredito que o texto só precisa ter uma coesão, um chamariz entre as palavras. As letras das minhas músicas já precisam ter um sentido percussivo, ele tem que batucar em cada sílaba”, enfatiza.

By Vivianny Matos - íntegra da matéria publicada no jornal Amazônia do dia 7/9/14, página 33.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...