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segunda-feira, 2 de março de 2015

Cabanagem é revivida no Margarida Schiwazzappa

Foto: Irlene Rocha 
Foi a partir de uma pesquisa para a conclusão de um curso que nasceu a obra teatral "Cabanos, Uma viagem no tempo". "O espetáculo é encenado já há dez anos e surgiu como conclusão do curso de teatro que ministrei aos alunos matriculados na disciplina de interpretação. A pesquisa se deu através da visitação em museus e estudos de livros e documentos que relatam a Cabanagem em nosso estado", conta Fernando Matos, que é o roteirista e diretor geral da peça que foi apresentada no último dia 1º de março, às 19h30, no teatro Margarida Schiwazzappa - Centur.

O espetáculo conta com um pequeno trecho do livro “A Ameaça”, uma homenagem ao escritor paraense Marco Antônio de Oliveira. A obra mistura fatos históricos com ficção romancista, como as cenas dos momentos vividos pelos personagens Miguel Aranha e Elizabeth, filha do então governador Bernardo Lobo de Souza. Durante os 60 minutos de encenação, o público vai se emocionar com interpretações de fatos reais, incrementados com pitadas de fantasias.

Para o grupo Encenação, a Cabanagem foi o fato mais importante, tanto do ponto de vista histórico, econômico, como político e social, que aconteceu na Amazônia no período imperial. "O referido espetáculo aborda justamente a tomada do Palácio do governo pelos líderes cabanos Angelim e Vinagre, após a morte do Cônego Batista Campos, quando por ocasião dos desmandos do governador Bernardo Lobo de Souza e as atrocidades do Coronel José Joaquim da Silva Santiago. Isso tudo mesmo depois do Brasil já se ter tornado independente politicamente de Portugal", esclarece Fernando.

O diretor explica ainda que para a primeira montagem, o elenco foi preparado com os alunos do curso de teatro do Serviço Social da Indústria (SESI) e complementado com alguns atores do Grupo Encenação. Após a saída de alguns atores do elenco, foram realizadas audições para completar os personagens. "Para essa montagem de agora, o procedimento foi o mesmo: audições. Escolhemos os atores de acordo com o perfil do personagem o que, para mim, é necessário para a composição dos protagonistas que norteiam a história", revela Fernando Matos.

Para adaptar a linguagem ao sotaque e ao vocabulário da época em que a peça retrata foram realizadas pesquisas e treinamentos. "Muito laboratório, pesquisa em filmes e séries de televisão e cinema, consultas a livros da época. Tudo tinha que estar de acordo com a necessidade da obra", completa o diretor geral. São quase 30 pessoas envolvidas para realizar o espetáculo entre atores e equipe técnica.

Para o ator Phelipe Marques, o espetáculo é um resgate que ele considera a essência da Cabanagem: o espírito dos Cabanos! “O sentimento coletivo da época transcende todas as nossas explanações sobre a revolta. É algo que precisa ser vivido, sentido e é o que tentamos reproduzir no palco. Fazendo um paralelo com o contexto atual. A Cabanagem precisa ser resgatada, não a luta com armas, mas a luta ideológica e de não conformismo do povo perante à realidade. É inegável o não interesse das classes dominantes em divulgar e manter viva a chama da Cabanagem e o espetáculo, de certa forma, fará o público reviver o orgulho de ser paraense e descendente de um povo lutador e indomável”.

Para Fernando Matos a importância da obra teatral, do ponto de vista histórico, se dá pelo fato de retratar uma aspiração social, uma luta contra o governo autoritário em Belém. "Foi o espírito revolucionário em Belém que expulsou as tropas estrangeiras e assim libertaram o Grão-Pará da opressão que viviam. Além de lembrar o governo regencial de uma região até então esquecida".

“Estamos trazendo novamente aos palcos paraenses a história da nossa revolução. Espero um dia, quem sabe, ver essa nossa história sendo trabalha no cinema e na televisão assim como as outra revoluções brasileiras já foram para a telinha”.


O público que foi assistir a peça vai se deparou com um belíssimo espetáculo. Cheio de ação, romance e surpresas. Foi com recursos próprios do grupo e com o apoio logístico de Frederico Mattar, um admirador do trabalho do Encenação e das artes cênicas, que a peça virou realidade.


Preparação para a obra que resgata a Cabanagem

Phelipe Marques, que interpretou o cabano Eduardo Angelim, conta como se preparou para fazer a sua personagem em "Cabanos, Uma viagem no tempo". “Não existe uma fórmula pronta! O maior desafio está sendo viver a vida de Eduardo Angelim, construir o seu pensamento e principalmente compreender o seu coração, a sua alma e aliar isso à técnica exigida nas cenas. A preparação foi feita a cada ensaio e pesquisa. É uma busca constante para viver aquela realidade”, ressalta.


Eduardo Viana espera que um dia a Cabanagem também seja uma obra da sétima arte. “Esse espetáculo é particularmente especial para mim, pois o faço também como uma grande homenagem ao meu querido pai que faleceu em novembro do ano passado. Em vários momentos do espetáculo, a memória emotiva deste fato me ajuda ao desprender a emoção necessária para a cena”, revela Phelipe. 


Para reviver Miguel Aranha, o ator Rai Moraes procurou entender a vida das pessoas daquela época. Ele sente o peso da responsabilidade ao relembrar cenas do momento histórico que representou a Revolução Cabana para o povo paraense. “A grande importância desta peça é o fato da Cabanagem ter sido uma revolução no qual o povo, pela primeira vez, pegou em armas e assumiu o poder no Estado. A Cabanagem é uma revolução que foi vencida pela maioria que era explorada pelos governantes da época. Foi um período de unificação de um povo humilde, formado entre eles por caboclos, índios e escravos. Com certeza uma história bem paraense”.

A atriz Jorgeanne Lelís, que interpreta Luiza Clara, esposa de Eduardo Angelim, se preparou para o seu personagem lendo livros e documentos antigos sobre a Revolução Cabana. Ela acredita que o espetáculo é de extrema importância, já que conta um período da história paraense em que o povo unido e insatisfeito com as injustiças e explorações, conseguiu depor o governo e assumir o poder. “Esse é um trecho da história paraense tão importante e pouco divulgado”, enfatiza.


O ator Eduardo Viana também se dedicou à leitura de livros pra poder entender a atmosfera da Revolução Cabana e o sentimento do coletivo naquele momento. “Descobri em um texto, que Antônio Vinagre, o personagem que eu faço, odiava o comandante das armas que é o coronel Santiago, assim como também de certa forma ameaçou os outros líderes cabanos caso se acovardassem diante do inimigo, fato que é retratado no espetáculo, em um discurso inflamado de encorajamento. Com base nessas informações pude montar um pouco da personalidade do personagem.


Pesquisei também o que se usava na época como as roupas, as armas, etc. Isso ajuda demais o ator. O resto é técnica, como por exemplo trabalhar voz, corpo e emoção”.


Ele acredita que pra se entender o momento em que estamos vivendo atualmente é importante olhar o passado. “Assim aprendemos a moldar o nosso presente e projetar o nosso futuro, de certa forma a cabanagem é pouco retratada nos livros de historia, na boca do povo, muito em função dessa falta de informação”.



FICHA TÉCNICA ELENCO

Wesley– Lavor Papagaio

Eduardo Vianna - Antonio Vinagre

Róbson Carrera – Tenente-Coronel Santiago

Cléo DuCarmo – Presidente da Província Lobo de Souza

Jorgeanne Lélis – Luiza Clara (Esposa de Angelim)

Rai Moraes – Miguel Aranha

Fernando Matos - Sargento Flóro (Personagem fictício)

Phellipe Marques – Angelim

Flávio Santos - Cabo da Guarda (Personagem fictício)

Thainá Chemelo/Kyria Monteiro – Elizabeth (Filha de Lobo de Souza – Personagem fictício)

Raquel Gonçalves – Eulália (Personagem fictício)

Andréa Oliveira – Mundica (Personagem fictício)

Adiel Pereira – Geraldo Gavião e Cabano

Widson Gonçalves – cabano

Rodrigo Pimentel – cabano



Técnica

Daniel Matos – Iluminação e sonoplastia

Nelson Teixeira – Cenotécnica

Texto e Direção Geral – Fernando Matos

Cenário – Irlene Rocha/Daniel Matos/Nelson Teixeira

Figurino – Irlene Rocha

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