Historinha "repostada": A dura vida de Ladi Dani

Todos os dias ela levanta cedo. Faz o café e prepara os três filhos pequenos: Ledilson, LadiAna e Lednalson para irem até a escola, distante 4 km da rua onde moram. Eles vivem numa casinha humilde, mais uma casa desses municípios esquecidos do interior do Pará. Ela tem 32 anos, 22 só de trabalho doméstico nos lares dos mais bem "abastecidos" da cidadezinha onde mora desde que nasceu.   

Mãe solteira, tem que trabalhar dobrado em pelo menos duas casas para sustentar os filhos. Ela se chama Ladi Dani e levanta, todos os dias, quatro horas da manhã. Conta com a ajuda da mãe para ajudar a cuidar das crianças já que chega em sua residência depois das dez horas da noite. 

Em uma das casas na qual trabalha, Ladi Dani tem que aguentar o viúvo Rubervaldo de Lanóvia, um velho rabugento e sem humor algum, descendente de estrangeiros do tempo da Bella Époque.

                           

Ladi Dani - Bom dia seu Rubervaldo.

Rubervaldo - Tá chegando tarde. Já são 7h00 da manhã. E eu ainda nem fiz o meu desjejum.

Ladi Dani - Mas seu Ruberval, a gente combinou esse horário desde o 1º dia da minha contratação, há um ano atrás. O senhor não lembra?

Rubervaldo - Eu não lembro disso. Todo dia é a mesma coisa. Tu vens querer lembrar de coisas de um ano atrás.

Ladi Dani - Mas seu...

Rubervaldo - Aí menina! Chega. Vá logo pra cozinha preparar alguma coisa pra eu tirar a minha barriga dessa fome.

 Ladi Dani -  $#8R&... (resmungando)

 5 MINUTOS DEPOIS...

 Ladi Dani - (com um sorriso amarelo e a bandeja nas mãos) Tá pronto! Tome um cafezinho com leite bem quentinho com torradas que fiz pro senhor com toda a dedicação e carinho.

Rubervaldo - Hoje não quero café não.

 Ladi Dani - E o quê o senhor vai querer então?

Rubervaldo - Ah! Não sei pequena! Veja lá. Traz alguma coisa gelada.

10 MINUTOS DEPOIS...

Ladi Dani - (ao voltar da cozinha entra no quarto com um outro sorriso mais amarelo ainda) Está aqui: suquinho bem gostoso de laranja. Geladinho, geladinho. Do jeito que o senhor pediu.

Rubervaldo - (o velho nem se levanta da cama, olha de canto do olho para a bandeja) Hum... não gosto de suco de laranja.

Ladi Dani desfaz o sorriso e em silêncio, e  muito irritada, se retira do quarto do velho. Depois de  15 minutos volta da cozinha com um chá de camomila. Agora, sem sorriso.

Ladi Dani - Trouxe um chá com pão esquentado na frigideira pro senhor.

Rubervaldo - Num quero isso não!

Ela conta de 1 até 10. Respira fundo e volta pra cozinha. 



5 MINUTOS DEPOIS...


 Ladi Dani -  Tome este copo de leite bem gelado  e essas bolachas.


Rubervaldo - Num só mais menino pra tomar leite pequena! E num gosto de leite gelado não!


Ela, com vontade de esganar o velho, não diz nada. Retira-se, mais uma vez do quarto e retorna para a cozinha. 

Quando ela está chegando quase na porta do quarto do velho, cinco minutos depois, trazendo um mingau de aveia morno, escuta ele gritar:

Rubervaldo - Faz pra mim um café com leite e me traz algumas torradas.

...