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terça-feira, 18 de junho de 2013

Dona Onete: a rainha do carimbó chamegado

Por Senhorita Matos
Foto: Divulgação
A música surgiu em sua vida quando ela ainda era uma criança. Natural do Marajó, veio para a Pedreira – um bairro da capital paraense que ela considera festeiro – onde cresceu e estreitou ainda mais os laços com a cultura local. Hoje, 18 de junho, ela completa 74 anos de muita luta pela educação e cultura em terras paraenses. Estou falando da professora de História aposentada Ionete da Silva, mais conhecida como Dona Onete – a rainha do carimbó chamegado.



“Quando eu completei dez anos, fui pra Igarapé-Mirim e comecei a cantar. Fiquei encantada com a lenda do boto. Também morei no bairro da Pedreira. Naquela época, não era tão perverso quanto é agora. As crianças podiam participar das festas. Não havia tanta maldade como existe hoje”, relembra Dona Onete.

Aos 42 anos, ela fundou o Grupo de Carimbó Canarana, em Igarapé-Mirim. Nos tempos em que ela era apenas a professora Net, sempre fez de tudo para levar a cultura regional aos seus alunos. “A música me acompanha e eu também sempre vou atrás dela”, revela.

Por seu contato com a música, Dona Onete já era reconhecida como cantora mesmo antes da fama, porém, não profissionalmente. “Eu já estava me preparando para a minha aposentadoria. Infelizmente, trabalhar com a música não é seguro. Os cachês são pequenos. Eu sempre me preocupei muito com a minha aposentadoria. Então, me dediquei ao trabalho de educadora.”

Foi em 2009, através do amigo radialista Ruy Montalvão, que conheci a Dona Onete. Jamais esquecerei das palavras que ela me disse: “nunca desista dos seus sonhos, tudo vem no tempo certo”. Fui presenciar um ensaio do então Coletivo Rádio Cipó, num estúdio no centro de Belém. Me encantei com o vigor e o espírito jovem do Mestre Laurentino e de Dona Onete, ambos integrantes do coletivo.

Agora, em 2013, Dona Onete tem o reconhecimento merecido. Ela tem o espaço para cantar as próprias composições; melodias que falam sobre a vida cabocla, sobre o amor marajoara. “Estamos aproveitando essa oportunidade para mostrar o encantamento do Pará para o Brasil e para o mundo”, diz a diva do carimbó que voltou de Portugal a pouco tempo.


Escute o CD Feitiço Cabloco 


“Deus reservou (a fama) para agora. A gente nunca desiste de um sonho. O meu pedido é que não desistam da cultura. A cultura é tudo. Você pode conhecer muita coisa, mas se você não estuda e não vive um pouco a cultura, não adianta nada”, afirma.

Foi num show em Belo Horizonte pelo projeto Conexão Vivo, no final do mês de maio, que Dona Onete viu o quanto o seu trabalho  chegou até o público nacional. Neste show ela recebeu o carinho de mais de oito mil pessoas. “Fiquei emocionada ao escutar toda aquela gente gritando ‘diva, rainha do carimbó chamegado’”, lembra a compositora. 

Os músicos Pio Lobato, Breno, Guaraiebe, Vovô e Argentino Neto acompanham a cantora nos shows. Eles formam a banda base de Dona Onete.

A diva do carimbó já tem um show agendado em São Paulo. Dia 23 de junho, participa de um outro evento em Belém do Pará. E também estará no São João de Todos os Santos com todo o seu chamego marajoara em Igarapé-Mirim e Marajó.

Apesar dos diversos convites para fazer shows em todas as partes do país, e até fora, Dona Onete preza pelo seu bem estar. “Já estou com uma idade um pouco avançada e tenho alguns problemas de saúde. Pretendo continuar passo a passo. Não adianta querer dar um passo maior do que eu posso. Não é questão de sucesso, e sim de qualidade de vida. Eu quero mais é estar aqui em Belém do Pará. Não quero viajar muito. Já vivi o passado, quero viver o presente e me prevenir para o futuro”, enfatiza.

A musicista afirma também ter muito cuidado com a voz. O que  influencia a sua vestimenta. Ela acabou lançando moda por causa do seu figurino. “O turbante na cabeça e o lenço no pescoço são proteção contra o sol ou frio, mas acabou virando moda. Encontro muitas jovens depois dos shows, dizendo que resolveram também usar esses adereços porque acham interessante a maneira como eu me visto”.

Em breve, a rainha do carimbo chamegado vai lançar o livro “A travessia e as travessuras de Dona Onete”, onde contará a trajetória de sua vida. Suas indas e vindas por territórios paraenses. Aguardem a matéria. 


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